O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Este poema foi escrito por
Sophia de Mello B.Andresen
Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas abaixo
Como um pedregulho enorme...
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por cairem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos...
Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz não,
Não sei porquê - eu não tinha medo -
Pus-me a rezar a Santa Barbara
Como se fosse a velha tia de alguém...
Ah! É que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou...
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
Tranquilamente, como o muro do quintal;
Tendo ideias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor...
Este poema foi escrito por Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa)
«Outono» de José Malhoa No Outono as folhas caiem das árvores, Bia
Suavemente...
Sem sentido.
Os dias são frios,pequenos,serenos...
As andorinhas voam para outros lugares...
Mais quentes!
A Natureza fica triste.
Aparecem as primeiras chuvas.
É a estação das romãs,
Dos marmelos,
Das avelãs,
Das castanhas assadas.
A neve começa a cair...
A vida corre devagar,
Passageira,
Em torno dos sonhos construídos...
NÃO POSSO «Iludir a Fadiga De humanos e o sejam Em ecos de silêncio e mansidão Se algum dia nos apercebermos
A que me arrasta a tristeza de
Esperar que os homens caiam em si
Não posso abrir uma fenda no tempo
Não posso esperar que a "Razão"
Desça do alto, não posso esperar que
Os homens de repente deixem a
Indiferença e o esquecimento
Se cada um reflectir, se cada um
Se lembrasse, que cada um nasce nú
E cada um morre por si...
Que a morte é individual mas daqui
Ninguém sai vivo.
Que mais não somos do que frágeis
Folhas de árvores suspensas num tempo
Breve, teremos que inventar outra forma
De estar aqui, reinventar a humanidade
E o que dela resta para que não mais
O homem "peque" e se castigue!»
Este poema foi escrito por Silvestre Vigia
(Poeta desconhecido e que encontrei a distribuir os seus poemas na praia.)