«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.»Fernando Pessoa
Quarta-feira, 31 de Agosto de 2005
«Pedra Filosofal»

("Arte antiga" - "site"do Museu do Louvre)
"Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e defenida
como outra coisa qualquer
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma,é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo
que foça através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela,é cor,é pincel
arco, em ogiva,vitral,
pináculo de catedral,
contraponto,sinfonia,
máscara grega,magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro,canela,marfim,
florete de espadachim,
bastidor,passo de dança,
Columbina e Alerquim,
passarola voadora,
pára-raios,locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno,geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som,televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem,nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança."
Este poema foi escrito por António Gedeão(A "Pedra Filosofal" é o símbolo de qualquer coisa capaz de transformar o que existe em algo precioso.Na minha opinião, as pessoas continuam a ter a necessidade de sonhar e de acreditar "que o sonho comanda a vida".)
Terça-feira, 30 de Agosto de 2005
«Pequeno poema»

No dia em que nasci...O céu continuou azul,
O mar calmo não embraveceu.
A manhã linda e serena
Não se comoveu.
O Sol continuou quente e brilhante,
Não escureceu.
Os navios não naufragaram
Com cofres carregados de oiro.
Incêndios? Catrástrofes?
Isso não aconteceu.
Uma gaivota sobrevoou a praia,
Trazia algo no bico...
Minha mãe aconchegou-me
E feliz,agradeceu.
Meu pai contente
Sorriu.
Nesse dia de Verão
A novidade fui eu!
Este poema foi escrito por
Bia
Quinta-feira, 25 de Agosto de 2005
«Amigo é...»

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido,explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Este poema foi escrito por
Alexandre O'NeilDedico este poema ao meu pai,hoje seria o dia do seu aniversário.
Sábado, 20 de Agosto de 2005
«Praia de Santa Cruz»

A minha praia preferida!
«O Principezinho»
"(...)
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava - respondeu o principezinho - mas não tenho muito tempo.Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada.Compram as coisas feitas nos vendedores.Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos.Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é preciso fazer? - perguntou o principezinho?
- É preciso ter muita paciência.Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim,assim, em cima da relva.Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada.A linguagem é fonte de mal-entendidos.Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
(...)
E foi assim que o principezinho prendeu a si a raposa.E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - Ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
(...)
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. - Vou-te contar o tal segredo.É muito simples: só se vê com o coração.O essencial é invisivel para os olhos...
- O essencial é invisivel para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.(...)"color"#000066"> Antoine de Saint -Exupéry,
O Principezinho
Sexta-feira, 5 de Agosto de 2005
«À procura de amigos...»
width="450">
(ilustração do autor)"(...)
Foi então que apareceu a raposa.
- Olá,bom dia!-disse a raposa.
- Olá,bom dia!- respondeu delicadamente o principezinho que se voltou, mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou tão triste...
-Não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...
- Ah! Então, desculpa! - disse o principezinho.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- O que é que "estar preso" quer dizer?
- Vê-se logo que não és de cá - disse a raposa. - De que é que andas à procura?
- Ando à procura dos homens - disse o principezinho. - O que é que "estar preso" quer dizer?
- Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar - disse a raposa. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás, na miha opinião é a única coisa interessante que têm.Andas à procura de galinhas?
- Não - disse o principezinho. - Ando à procura de amigos.O que é que "estar preso" quer dizer?
- É uma coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. -Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
-Laços?
Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos.E eu não preciso de ti.E tu também não precisas de mim .Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas.Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro.Passas a ser único no mundo para mim.E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
- Parece-me que estou a perceber - disse o principezinho. - Sabes há uma certa flor... tenho a impressão que estou preso a ela...
(...)"Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
Quinta-feira, 4 de Agosto de 2005
«Ou isto ou aquilo»
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Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sob nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce
Ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo;ou isto ou aquilo
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco,não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas ainda não consegui entender ainda
qual é melhor:se isto ou aquilo. Poema escrito por Cecília Meireles (poetisa brasileira)
Quarta-feira, 3 de Agosto de 2005
«Mas o que é a saudade?»

(in sapo)
"(...)
No dia seguinte,logo de manhã, o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada.Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.
-Bom dia, bom dia, bom dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.
-Bom dia - disse o rapaz.E ajoelhou-se na água, em frente da Menina do Mar.
-Trago-te aqui uma flor da terra -disse; chama-se rosa.
É linda,é linda- disse a Menina do Mar,dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
-Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente.
Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
-É um perfume maravilhoso.No mar não há perfume assim.Mas estou tonta e um bocadinho triste.As coisas da terra são esquesitas.São diferentes das coisas do mar.No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres.Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
-Isso é por causa da saudade- disse o rapaz.
-Mas o que é a saudade?- perguntou a Menina do Mar.
-A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.(...)"
Sophia de Mello Breyner Andresen,A menina do Mar
Terça-feira, 2 de Agosto de 2005
«Quadrado dos Atoleiros»
Há sinos a tocar dentro das letras
eis as vogais vestidas de combate
montadas a cavalo com seus elmos e pendões.
Deu sinal a trombete do O
alinham-se as consoantes
armadas com seus FF e seus SS
suas flechas e suas setas.
Não tenho outra cavalaria
Não tenho outros infantes.
Eis as sílabas mais puras
as mais cheias de terra
as mais batidas pelo mar.
Com elas levantarei Lisboa
atacarei a cidade pelo campo
entrarei nos castelos
varrerei os códigos.
Eis o exército:
minhas vogais e consoantes
Poema escrito por Manuel Alegre