«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.»Fernando Pessoa
Sábado, 18 de Junho de 2005
«As palavras»

in sapo
São como um cristal.
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
«As Amoras»

in sapo
«O meu país sabe a amoras bravas
no Verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de acordar cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.»
Eugénio de Andrade
Após uma interrupção...
Após uma interrupção... voltei a escrever no «blogue». Desta vez para transcrever um poema de Eugénio de Andrade,o poeta que nos deixou neste mês de Junho. "À língua portuguesa deixa vasta herança, uma obra luminosa, musical marcada pelo rigor da palavra."